O Idiota by Fiodor Dostoievski

O Idiota by Fiodor Dostoievski

Author:Fiodor Dostoievski
Language: pt
Format: mobi
Published: 2011-07-23T23:52:30+00:00


12

Às sete horas da noite o príncipe se preparava para ir ao parque quando, sem ser esperada, Lizavéta Prokófievna entrou sozinha pela varanda adentro. - Não vá pensar - começou ela -, e lhe digo isso antes de mais nada, que lhe vim pedir perdão. Era só o que faltava. A culpa foi inteiramente sua. O príncipe não respondeu uma única palavra. - Foi, ou não foi?

- Tanto minha, como sua, muito embora nem eu nem a senhora tenhamos do que ser censurados. Amolei-me trasanteontem, mas hoje cheguei à conclusão de que não tinha razão nenhuma para isso. - Então é o que tem a dizer? Muito bem. Escute, mas escute sentado pois não pretendo ficar em pé.

Sentaram-se ambos.

- Em segundo lugar, nem sequer uma só palavra a respeito dos tais rapazes. Sentei-me apenas por uns dez minutos. Vim para colher informações. (E calculo já quanta coisa você não está imaginando.) E se você se referir, mesmo por alto, aos rapazes daquela noite, àqueles insolentes, eu me levanto, vou embora e rompo definitivamente com você. - Perfeitamente - respondeu o príncipe. - Permita que lhe pergunte uma coisa. Mandou você, há uns dois meses, ou mesmo dois meses e meio, aí pela Páscoa. uma carta Agláia? - Escrevi.

- Com que fim? Que dizia essa carta? Mostre-me essa carta! Os olhos de Lizavéta Prokófievna despediam chispas, toda ela se agitava com impaciência. - Não está comigo. - O príncipe ficou zonzo e horrivelmente desapontado. - Se ela não a pôs fora, está com ela, com Agláia Ivánovna. - Não finja! Que é que você escreveu?

- Não estou fingindo, não tenho de que ter medo. E não vejo razão alguma para não poder lhe ter escrito...

- Não dê com a língua nos dentes. Tem muito tempo para falar depois. Que dizia a carta? Por que é que você está ficando vermelho? O príncipe pensou um pouco.

- Não estou compreendendo o que a senhora quer; apenas percebo que

esse caso da carta a aborreceu. Mas deve concordar que eu posso recusar-me a responder a essa pergunta. Para lhe mostrar, porém, que não é a carta que me está embaraçando e que não me arrependo de a ter escrito e que absolutamente não estou vermelho por causa dela - Míchkin ficou mais vermelho ainda, no mínimo o dobro do que estava - vou lhe repetir a carta, pois acho que a sei de cor.

Dito isso, o príncipe repetiu a carta, quase palavra por palavra, conforme a escrevera.

- Mas que amontoado de asneiras? Qual a significação de todos esses disparates? Explique-me, já que os escreveu - perguntou Lizavéta Prokófievna, de um modo agudo, depois de ouvir com uma atenção extraordinária. - Eu próprio não poderia explicar bem. Só sei que escrevi com sinceridade. Naquela ocasião eu tive momentos de intensa vivacidade e invulgares esperanças.

- Esperanças? Quais?

- É difícil explicar. Mas não é o que a senhora está pensando aí, talvez. Esperanças... Isto é... em uma palavra, esperanças quanto ao futuro! E alegria por não ser, talvez, um estranho em uma certa casa.



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